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Diretor de Redação do jornal desde 1984, jornalista escreveu também livros e peças de teatro; em 91, recebeu prêmio internacional por contribuição à liberdade de imprensa

Morreu nesta terça-feira, 21, aos 61 anos, o jornalista, escritor e advogado Otavio Frias Filho, diretor de Redação do jornal Folha de S.Paulo. Ele tinha câncer no pâncreas. Deixa as filhas Miranda, de 8 anos, e Emilia, de 1 ano, que teve com Fernanda Diamant, editora da revista literária Quatro Cinco Um, e os irmãos Maria Helena, médica, Luiz, presidente do Grupo Folha, e Maria Cristina, editora da coluna Mercado Aberto. O velório será realizado a partir das 11h30 e a cerimônia de cremação, às 13h30, no cemitério Horto da Paz, em Itapecerica da Serra.

Paulistano, Frias Filho foi o responsável por consolidar o “Projeto Folha”, conjunto de medidas editoriais que estabeleceu normas de escrita e conduta do jornal que é considerado como um dos marcos da imprensa brasileira. Esses princípios nortearam também o Manual da Redação, lançado em 1984, o primeiro livro do gênero colocado à disposição do público. “Ele criou na Folha um novo jornalismo, inovador e corajoso, que serviu de exemplo para várias empresas do setor. Uma grande perda para todos”, afirmou o diretor-presidente do Estado, Francisco Mesquita Neto.

Herdeiro

Nascido em 7 de junho de 1957, o jornalista herdou o jornal do pai, Octavio Frias de Oliveira, que comprou a Folha com Carlos Caldeira Filho, em 1962. “Fui crescendo, e a ideia de trabalhar (no jornal) não me passava pela cabeça. Tanto que fui estudar Direito”, disse ele, em 1988, em entrevista à revista Playboy.

Nos anos 1990, Frias Filho e três jornalistas foram processados pelo então presidente Collor, que não gostou de duas notas econômicas publicadas pela Folha. A resposta do diretor editorial foi a publicação de uma carta aberta ao presidente da República na capa do jornal. “A intenção de Frias Filho era chamar a atenção da opinião pública para a dimensão política da ação do presidente: a de intimidar um órgão de imprensa”, escreveu, na própria Folha, no especial de 80 anos do jornal, o jornalista Mario Sergio Conti, autor de Notícias do Planalto. “Seu governo será tragado pelo turbilhão do tempo até que dele só reste uma pálida reminiscência, mas este jornal – desde que cultive seu compromisso com o direito dos leitores à verdade – continuará em pé”, dizia Frias Filho, em trecho da carta.

Repercussão

Em nota, a Associação Nacional de Jornais (ANJ) lamentou a morte do jornalista, lembrando que Frias foi responsável por deixar “profundas marcas na história da imprensa brasileira”. “O papel fundamental do jornalismo na democracia, sobretudo em um País como o nosso, onde a tentação do autoritarismo está sempre tão presente, marcou o pensamento e a ação de Otávio Frias Filho. Ele sonhava com um País moderno, justo e civilizado, e enxergava no jornalismo sério e responsável uma ferramenta indispensável para a construção desse sonho”, afirmou a entidade.

A Ordem dos Advogados do Brasil destacou o fato de Otavio ter dado espaço ao contraditório e ao debate de ideias divergentes. A entidade destacou também a importância da visão crítica sobre fatos relevantes do Brasil e do mundo. “Sem uma imprensa ativa e crítica, a democracia jamais poderá existir em sua plenitude. Lembraremos sempre da dedicação e empenho de Otavio Frias Filho ao jornalismo e à democracia por meio das páginas, impressas e virtuais, da Folha de S.Paulo.”

O governador de Pernambuco, Paulo Câmara, disse, em nota, que Otávio Frias Filho influenciou, como poucos, a imprensa brasileira. “Otávio Frias Filho influenciou, como poucos, a imprensa brasileira. Sua atuação à frente da Folha de S.Paulo levou o jornal a se tornar o maior e mais influente do País, marcando gerações de jornalistas. Como se isso não fosse bastante, Frias Filho também nos legou uma extensa e profícua produção intelectual, no teatro e nas letras. Otávio Frias Filho fará uma grande falta, especialmente nesse momento em que a Imprensa enfrenta imensos desafios, diante da propagação das “fake news” e dos ataques da política intolerante”, declarou Paulo Câmara.

Presidenciáveis

O tucano Geraldo Alckmin (PSDB) disse, em nota, que Otavio deixa um legado que vai além do jornal de cada dia. “Ao longo de 34 anos no comando editorial da Folha, buscou incessantemente fazer um jornalismo crítico, preciso, plural, perseguindo cotidianamente a excelência”, disse. “Cala fundo a morte prematura de um homem com tanto talento e tantos serviços prestados ao Brasil”, afirmou Alckmin.

Marina Silva, candidata da Rede ao Planalto, afirmou que o compromisso com a pluralidade e a democracia marcaram a trajetória de Frias Filho. “Nestes tempos de ameaça à normalidade democrática brasileira, a falta de Otavio será especialmente sentida. Que Deus console e dê sustentação à família, aos amigos e aos colegas de trabalho”, afirmou.

O Estado de S.Paulo

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