Maior
parte das informações erradas se refere a formas de prevenção
Por Vinícius Lisboa – Repórter da Agência Brasil – Brasília
Postado por Marcos Lima Mochila
Desde
o fim de janeiro, o serviço do Ministério da Saúde que combate a disseminação
de notícias falsas já refutou dezenas de mentiras que circulam na internet
sobre o novo coronavírus. Entre textos, imagens e vídeos, chama a atenção a
quantidade de recomendações erradas para prevenir a doença, de uísque a
vitamina D. A velocidade da dispersão de informações equivocadas e sem
comprovação científica sobre o vírus preocupa especialistas ouvidos pela
Agência Brasil.
No
início de fevereiro, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) divulgou uma
nota de repúdio a respeito de um vídeo distribuído via Whatsapp que citava a
injeção de vitamina D em doses altas como estratégia preventiva ao novo
coronavírus.
O
vice-presidente da SBI, Alberto Chebabbo, alerta que altas dosagens dessa
vitamina podem ser prejudiciais à saúde e que outros métodos falsos podem
prejudicar a real prevenção da doença.
“Há
uma quantidade enorme de fake news, de notícias falsas, e a maior parte delas
relacionadas a formas de prevenção. Uso de vitamina para melhorar o sistema
imunológico, fazer gargarejo com água quente, coisas que não têm nenhum tipo de
evidência científica”, diz o especialista que avalia o fenômeno com
preocupação.
“São
recomendações que não vão proteger o indivíduo e vão dar uma falsa sensação de
prevenção.”
Para prevenir o novo coronavírus, o
Ministério da Saúde recomenda:
–
lavar as mãos frequentemente com água e sabonete por pelo menos 20 segundos, ou
usar desinfetante para as mãos à base de álcool quando a primeira opção não for
possível;
–
evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas;
–
evitar contato próximo com pessoas doentes;
–
ficar em casa quando estiver doente;
–
usar um lenço de papel para cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar, e
descartá-lo no lixo após o uso;
–
não compartilhar copos, talheres e objetos de uso pessoal;
–
limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com frequência.
Outros
cuidados importantes são manter ambientes bem ventilados e higienizar as mãos
após tossir ou espirrar.
O
ministério explica que não há nenhum medicamento, substância, vitamina,
alimento específico ou vacina que possa prevenir a infecção pelo novo
coronavírus.
Cuidado com as redes sociais
Chebabbo
pede que a população não repasse nem compartilhe em suas redes sociais
quaisquer recomendações sem a certeza de que as fontes são confiáveis e de que
os conteúdos são verdadeiros.
“Se
você não tem certeza de que aquela notícia é verdadeira, é melhor não
repassar”, diz o especialista.
Entre
as recomendações falsas disparadas via WhatsApp estão: tomar chá de abacate com
hortelã, chá de alho, uísque quente com mel ou vitamina C com zinco. Nenhuma
dessas medidas ajuda a prevenir o coronavírus.
Chebabbo
recomenda buscar informações nas páginas da própria Sociedade Brasileira de
Infectologia, do Ministério da Saúde e das secretarias estaduais de saúde.
A
SBI também divulga notas técnicas e recebe perguntas por meio de um serviço
Fale Conosco em seu site. Já o serviço Canal Saúde Sem Fake News, do Ministério
da Saúde, pode ser consultado na internet. Dúvidas podem ser enviadas pelo
Whatsapp (61) 99289-4640.
Desinformação
Especialista
em fake news sobre saúde, o pesquisador Igor Sacramento, do Instituto de
Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo
Cruz (Icict/Fiocruz), avalia que as epidemias vieram acompanhadas de boatos e
pânico em momentos da história muito anteriores à internet, como a epidemia de
peste bubônica que matou milhões de pessoas no século 14. Um exemplo mais
recente é o do vírus Influenza, cuja pandemia foi objeto de boatos na internet
há cerca de uma década. Apesar dessa recorrência, ele destaca que o momento
atual é preocupante pelo descrédito que a ciência vem sofrendo em parte da
sociedade.
“As
pessoas têm confiado cada vez mais em discursos e informações que não são
baseadas em evidências nem na ciência, mas na experiência de pessoas que
disseram que isso aconteceu”, alerta. “É muito preocupante quando as
pessoas acreditam mais em um testemunho no YouTube do que em um especialista
que pesquisou um assunto por anos.”
Primeiro
país a ter sido afetado pela doença, a China vem sendo alvo de parte dessas notícias
falsas. Em algumas delas, produtos importados do país asiático são considerados
possíveis transmissores do vírus, que, segundo um desses textos, poderia ser
transportado pelo ar dentro do plástico-bolha.
Ao
desmentir essa informação falsa, o Ministério da Saúde destaca que não há
evidências de que isso possa ocorrer, “já que vírus geralmente não
sobrevivem muito tempo fora do corpo de outros seres vivos, e o tempo de
tráfego destes produtos costuma ser de muitos dias”.
Igor
Sacramento lamenta que, além de confundir a população sobre a prevenção, a
desinformação sobre o coronavírus também tenha espalhado preconceitos contra
chineses e seus descendentes, com fake news que atribuíram à doença uma falsa
origem étnica.
“O
que a gente vê no processo de construção social de uma doença é o quanto ela
revela traços de uma sociedade e de mudanças sociais profundas. No caso do
coronavírus, revela o contexto que a gente vive de enorme desinformação”,
diz o pesquisador.
Edição:
Lílian Beraldo