II Festa Digital do Livro ganhou capítulos no Spotify e transmissão no canal da Fundaj no YouTube

E se você pudesse conversar com aquele escritor favorito? Para muitos leitores, o contato com obras inesquecíveis pode não ser o suficiente, mas é o bastante para manter uma relação um tanto mais íntima com qualquer autor. Em 2021, a II Festa Digital do Livro, da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), atestou isso. O evento foi promovido ao longo de toda esta sexta-feira (23) em canais da Instituição no YouTube e no Spotify.

Promovida pela Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca), da Fundaj, a edição contou com curadoria do diretor da Dimeca e escritor Mario Helio. Dentre as novidades da Festa Digital do Livro, cuja edição chegou a 16 horas de transmissão em 2020, o destaque da vez ficou para a adesão ao formato podcast. Não por acaso, o tema para o ano foi “As Muitas Vozes do Livro”, em referência às narrativas orais que precedem o próprio ato de escrever e publicar.

Ao longo de seis episódios, distribuídos entre 9h e 19h, o público foi convidado a tomar café e bater um papo com escritores e grandes leitores. Intelectuais, estudiosos de cânones da Literatura Mundial, professores e alunos participaram debatendo temas como “Dom Quixote”, de Miguel de Cervantes, o universo ao redor de William Shakespeare, obras de Charles Baudelaire e Pablo Neruda, e muito mais. Não faltaram também discussões sobre os desafios do mercado no Brasil.

Com direito a leitura de trecho da obra em espanhol, o diretor da Dimeca, Mario Helio, comentou no Episódio 1 a atualidade do livro Dom Quixote, de Cervantes. “Escrito há mais de 400 anos, mantém páginas cuja vitalidade faz parecer terem sido escritas hoje pela manhã”, disse. No quadro “Livros inesquecíveis, livros que todos deveriam ler”, criado especialmente para o evento, a romancista e autora de “Os malaquias” (2010), Andrea del Fuego explicou porque “Cem anos de solidão”, de Gabriel García Márquez, é um livro de leitura sempre instigante.

Na sequência, coube ao jornalista Felipe Lindoso, autor de “O Brasil pode ser um país de leitores? Política para a cultura, política para o livro”, refletir sobre o investimento atual em novos leitores no País. “A questão não é ser um país de leitores. A questão é ser um país onde os livros sejam acessíveis”, declarou. Já o escritor Paulo Scott comentou João Gilberto Noll, morto em 2017. Scott é autor do romance “Marrom e amarelo” (2019) na lista de vários críticos literários como um dos livros mais marcantes da década.

Surpreendente, no Episódio 2, a participação do escritor e crítico literário João Cezar de Castro Rocha é de arrebatar ao falar sobre William Shakespeare em cinco atos. Em sua participação, João Cézar contextualizou o dramaturgo ao seu tempo, como por exemplo um Shakespeare de Brasília Teimosa, periferia do Recife, ou Bento Ribeiro, subúrbio do Rio. “Shakespeare escritor de teatro está muito longe de ser o centro do cânone no período elisabetano.” Ainda neste episódio, o escritor e jornalista Xico Sá revelou seu livro inesquecível: “Angústia” (1936), do alagoano Graciliano Ramos.

Celebrando a marca de 50 anos, “O Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta” (1971), de Ariano Suassuna, rendeu muita história no Episódio 3. Para o professor, arquiteto e escritor Carlos Newton Jr., um dos maiores comentadores da obra de Ariano, o título é indispensável para compreender o Brasil contemporâneo e o Brasil profundo. Coube ao romancista Sidney Rocha ler trechos da obra. No mesmo episódio, o contista e professor da UFPE Jonatas Ferreira revelou porque considera “Grande Sertão: Veredas” (1956), de Guimarães Rosa, um livro inesquecível.

O bicentenário de Charles Baudelaire foi comemorado no quarto episódio do podcast: “As Flores do Mal” e ‘A serpente que dança’. O pesquisador e especialista na obra de Baudelaire, Gilles Jean Abes, fez um convite a todos os ouvintes para se acomodarem e conhecerem o poeta. Ao longo do episódio, poemas são lidos, livros são comentados e analisados e até a crônica do recifense Antônio Maria entra em cena.

“Vinte poemas desesperados de amor e uma canção amorosa de esperança” foi o tema e título do episódio 5 do podcast. As vozes leitoras de Gheusa Sena Leal e Maria Valéria Rezende recitaram e emocionaram com poemas de amor e canções de prece, esperança e renovação da fé. Além do autor do livro “Vinte poemas desesperados de amor e uma canção desesperada”, Pablo Neruda, foram homenageados poetas como Ascenso Ferreira, Mário de Andrade, Maciel Monteiro, Olavo Bilac e Augusto dos Anjos.

No sexto e último episódio do podcast “As Muitas Vozes do Livro”, o tema principal foi a realidade do livro e da leitura nas universidades. O editor Plínio Martins Filho e o reitor da Universidade Federal de Pernambuco, Alfredo Gomes, falam sobre políticas públicas para o livro e o ministro da educação, Milton Ribeiro, narra a sua formação enquanto leitor. O episódio se chama “A Universidade e o livro, o livro e a Universidade” e, assim como os outros do podcast, pode ser ouvido pelo Spotify e YouTube. Acesse: https://spoti.fi/3sGKhHu

Websérie e exposição

A II Festa Digital do Livro transformou as diversas vozes do livro em uma websérie também no YouTube. Chamada de “Livros & Leitores”, a série de quatro vídeos da Massangana Audiovisual fez o público se aconchegar para ouvir boas histórias de leituras e leitores. Entre as suas lembranças, o artista e escritor José Claudio falou sobre seus hábitos como leitor. “As minhas leituras são muito de acordo com as circunstâncias. Eu sempre deixei as coisas irem acontecendo, nunca tive as leituras programadas”, contou.

Já Maria Betânia Andrade, coordenadora da Biblioteca Popular do Coque, relembra do seu primeiro contato com os livros e como a paixão pela leitura surgiu e se transformou em uma mobilização na comunidade. “Aos 10 anos eu tive o prazer de ter contato com a leitura através de um depósito de papelão, que era de reciclagem, na comunidade. Eu levava papelão para lá e encontrei um livro”.

Algumas das vozes leitoras da websérie são de Ana Mongini, Lourival, Georgia Alves, Zuleide Duarte, Maurício Melo Jr., Érica Montenegro, Maria do Rosário, Nayóbi Patrícia, Laianny Santana e Lucas Candido da Silva. O material está disponível no link https://bit.ly/32Jeqvi

Uma homenagem a Mário Souto Maior foi apresentada para os fãs do folclore brasileiro. Por meio de uma linha do tempo montada pela Biblioteca Blanche Knopf, o público pôde conhecer mais a vida pessoal, familiar e profissional do escritor. A exposição foi intitulada “Mário Souto Maior: Etnólogo, folclorista, escritor, educador” e foi um passeio pela memória e saudosismo e todos aqueles que encontraram no folclore suas primeiras referências, personagens amigos e medos a serem enfrentados. A mostra pode ser conferida em: https://bit.ly/3tMgoad.

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