“O protocolo é claro: se alguém está com fuzil, tem que ser neutralizado de forma letal”, afirmou o governador do estado, em entrevista ao O Globo

Witzel: 'Atiradores de elite já estão sendo usados contra traficantes'
Witzel: ‘Atiradores de elite já estão sendo usados contra traficantes’

Tânia Rêgo/Agência Brasil

Por Marcos Lima Mochila

 

Os atiradores de elite da Polícia Civil do Rio de Janeiro já estão em atividade, matando suspeitos de tráfico nas favelas, segundo contou o governador Wilson Witzel, em entrevista ao O Globo.

“Os snipers são usados de forma absolutamente sigilosa. Eles já estão sendo usados, só não há divulgação. O protocolo é claro: se alguém está com fuzil, tem que ser neutralizado de forma letal”, afirmou o governador do estado.

A prática foi uma das promessas de campanha de Witzel, mas é criticada por juristas e especialistas em segurança pública. O Ministério Público chegou a afirmar, ainda no ano passado, que denunciaria o governador se ele colocasse a proposta em prática.

Sobre a chance de pessoas inocentes serem atingidas pelos disparos, ele minimizou. “E algum morador foi atingido até agora? Não. A utilização de helicópteros é fundamental para coibir o tráfico. O que mais leva desespero a esses terroristas é aeronave sobrevoando a área deles. Porque aí eles não têm escapatória. Aí o que os bandidos fazem? Pegam moradores, botam fuzil na cara e falam assim: ‘Vai lá e reclama. Vai lá e coloca fogo”, disse.

Questionado sobre a alta no número de mortos em confronto com a polícia, Witzel disse não ser uma preocupação. “Zero preocupação. Eu confio na polícia e tenho dito isso para eles. Quando eu acabei com a Secretaria de Segurança Pública, o objetivo era exatamente dar às polícias o protagonismo e o poder de decisão. Os criminosos provocam tiroteios, orquestram assaltos e arrastões exatamente para poder causar um certo pânico”, afirmou.

01 04 WITZEL ATIRADORESQuem são os atiradores de elite da gestão Witzel

Os novos personagens que o governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), quer levar para as zonas conflitadas da cidade e do Estado são figuras discretas. Atiradores de elite, os snipers, na denominação em inglês, não têm nome, não devem ser vistos e quase sempre agem como sombras, confundidos com o cenário. Ainda assim são eficientes em seu trabalho: eliminar ameaças, matar pessoas. Podem atingir a cabeça de um homem a meio quilômetro de distância, de tal forma que o alvo caia imóvel.

Nesse caso, o objetivo é impedir a reação nervosa espontânea do dedo no gatilho de uma arma apontada para um refém ou da mão que segura o disparador de uma bomba, explica um especialista do Centro de Instrução de Operações Especiais do Exército, em Niterói, onde são formados os caçadores, a tropa do tiro de precisão.

Homem calmo e de fala mansa, ele diz que não há a menor dificuldade em fazer o trabalho para o qual a seleção é rigorosa e o treinamento, severo. Marinha, Aeronáutica, PF e as polícias estaduais mantêm quadros próprios dedicados a esse tipo de ação letal. Pouco se sabe a respeito de sua folha de serviços.

Witzel quer formar times de atiradores para abater quem for visto portando fuzis em meio às favelas e às comunidades. Não é tão simples. Pela legislação, a posse do rifle não autoriza o disparo letal – embora exija prisão.

Criminalistas ouvidos pela reportagem acreditam que isso só seria possível em uma situação de exceção, como a declaração de estado de sítio ou de defesa, quando há a supressão dos direitos constitucionais. Claro, em um confronto, vale o princípio da legítima defesa e da destruição da ameaça. Juiz federal, Witzel diz que se trata de uma questão de interpretação da lei, que prefere “defender o policial (que atirar para matar) no tribunal do que ir ao funeral dele”.

Os snipers das Forças Armadas atuam em situações de conflagração, apoiando a segurança da tropa e de autoridades, obtendo informações e neutralizando alvos selecionados. Os times policiais acrescentam “outro objeto” à lista, eventuais sequestradores que mantenham reféns sob risco. O tiro é feito quase sempre em duplas: o atirador e o observador, que fornece as informações de apoio.

O disparo deve ser feito na faixa de 300 metros para que a posição não seja detectada. A incidência de luz precisa ser considerada para evitar o reflexo na lente do sistema de mira. A dupla usa traje camuflado e às vezes uma cobertura para confundir o olheiro. As Forças empregam cinco diferentes tipos de fuzis, entre os quais os imensos Barrett M82A1 .50, americanos.

Os militares e policiais candidatos à função são voluntários. Eles têm entre 25 e 35 anos. Precisam ter passado por outros níveis de qualificação nas forças de operações especiais. O condicionamento físico é exigente. Alimentação balanceada, peso ideal e pressão arterial normal são pré-requisitos.

No momento do disparo, só o dedo indicador deve se movimentar; a respiração precisa estar no ritmo do batimento cardíaco e o acionamento do gatilho deve ser suave – tudo isso para evitar desvios de trajetória, explica o especialista do Exército.

O abandono durante o ciclo de instrução é alto. Em um dos cursos de três semanas do Batalhão de Infantaria Especial da Aeronáutica, em 2005, foram formados 14 atiradores. Houve quatro desligamentos.

Com informações do Estadão Conteúdo.

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