Manifestação, em apoio à Operação Java-Jato, à atuação do juiz Sérgio Moro, contra o foro privilegiado para autoridades, a favor da punição da prática de Caixa 2 nas campanhas eleitorais. Brasília, 26/03/2017 - Foto Orlando Brito
Manifestação, em apoio à Operação Java-Jato, à atuação do juiz Sérgio Moro, contra o foro privilegiado para autoridades, a favor da punição da prática de Caixa 2 nas campanhas eleitorais. Brasília, 26/03/2017 – (Foto Orlando Brito)
Por Itamar GarcezOs Divergentes

Uma parcela significativa dos eleitores que marcharão em direção às urnas neste domingo, 7 de outubro, não carregará o estandarte da esperança. Confirmada a polarização apontada pelos oráculos modernos e vivenciada em velhos e novos palcos, os das ruas e redes sociais, os votantes vão apontar sua ira em direção aos adversários.

O século XXI não dissipou os tempos extremos de Eric Hobsbawm, que assim alcunhou o século XX. Aqui, em terras brasilianas, não estamos isolados. Também cultuamos as ideias mais distantes do centro, geralmente quimeras.

De um lado, a ideia mítica do salvador que vai livrar os pobres e miseráveis do capitalismo opressor. Do outro, o mito de armas em riste que igualmente ostenta a miragem salvacionista contra a tirania sinistra.

Intolerância ao contraditório

Não são iguais. Oscilam entre a sofisticação política às simplificações toscas. Das receitas de alfarrábios a preconceitos arraigados.

Manifestações explosivas. Foto Orlando Brito
Manifestações explosivas (Foto Orlando Brito)

Mas ambos são genuínos e legítimos. Não representam a si mesmos. Expressam vontades e pensamentos de rincões e querências Brasil adentro.

Entre outros, o que os difere dos demais é o culto à ira. Se não estiver comigo, está contra mim. Revivem um bordão de sombria lembrança: ame ou odeie minha ideia.

“Os dois lados têm

a perigosa certeza de

que somente eles sabem o que

é melhor para o povo.”

As receitas de ambos contêm soluções divergentes. Antagonizam-se em questões programáticas, mas convergem no ódio a tudo que contrarie suas crenças de demiurgos.

Repartição pública. Foto Orlando Brito
Repartição pública (Foto Orlando Brito)

De um lado, o ódio à diversidade, aos direitos humanos, à integridade humana. Do outro, o ódio ao contraditório, à livre iniciativa, ao Estado enxuto.

Um lado se levanta contra os valores tradicionais. O outro quer preservá-los a qualquer custo.

Dos dois lados, militantes que não se toleram. E que têm a convicção cega dos fanáticos.

Traço comum a ambos, o desprezo à liberdade como valor absoluto. Compartilham, aberta ou veladamente, tendência ao autoritarismo onde governar rima com ordenar.

Afinal, os dois lados têm a perigosa certeza de que somente eles sabem o que é melhor para o povo. Como, às vezes, a democracia atrapalha este desígnio, vez e outra buscam atalhos a ela.

Canto das cigarras

Não há solução certa ou errada. Há escolhas como a que os brasileiros farão neste domingo.

Alguns eleitores lançarão os números à sorte como um sortilégio para as nossas mazelas. Para muitos, os algarismos digitados na urna buscarão entronizar um mito e destruir o outro.

No meio do caminho ficarão as ideias apaziguadoras e a moderação. Confirmadas as tendências, os votantes elegerão um candidato que é o mais amado e o mais odiado ao mesmo tempo.

Até aqui, insuflados por candidatos raivosos, uma parcela dos eleitores optou pela ira como conselheira. Fizeram suas escolhas.

Tempo quente. Orlando Brito
Tempo quente (Orlando Brito)

Como nossa terra é fértil, em se plantando, tudo dá. Principalmente ervas daninhas.

Neste 2018, fugindo ao padrão, as chuvas antecederam o tradicional canto das cigarras no cerrado brasiliense. Porém, galhos e troncos molhados não impediram que elas entoassem sua notável cantoria. Parecem indiferentes aos extremismos que crispam o horizonte. Talvez porque, para elas, nada vai mudar. Assim como os que cultuam a temperança prosseguirão apreciando o concerto de Bach.

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