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Dos 81 senadores, Michel Temer precisa que 54 votem no impeachment de Dilma Rousseff em agosto. A ela bastam 27. Por isso, ambos já se reuniram com Cristovam Buarque, do Partido Popular Socialista, que não revela o voto. Em entrevista ao DN explica porquê

Nos placards do impeachment publicados na imprensa surge entre os seis senadores “indecisos”. Porque está indeciso?

Eu não estou indeciso, estou julgando. Num regime que não é parlamentarista, como em Portugal, e sim presidencialista, não há a figura do voto de desconfiança ao governo mas antes a da destituição de um presidente. Para uma ação tão grave é preciso o senador, que é o julgador, estar muito convencido dos eventuais crimes praticados. E como estamos a meio do julgamento – a presidente Dilma Rousseff ainda pode ir, se quiser, defender-se no Senado, há provas por surgir, testemunhas por ouvir – acho que um juiz, como eu sou, não deve divulgar a sua sentença. Mesmo que soubesse como votar, não o diria.

Em maio, votou pela admissibilidade do impeachment. Porquê?

Eu votei pela admissibilidade porque nós senadores não tinhamos o direito de esconder debaixo do tapete o voto de dois terços dos deputados e o parecer muito forte do relator do processo no Senado [Antonio Anastasia, do PSDB]. Mas disse no meu voto que, votando pela admissibilidade do julgamento, não garantia que o fizesse pelo afastamento.

Pelo meio, há um dado novo: o governo de Michel Temer. Como o avalia?

Sem dúvida. No primeiro momento votávamos pelo impeachment, agora estamos a eleger um presidente para os próximos dois anos e meio. Já não é só o “tira Dilma” mas também o “coloca Temer”. Por isso é necessário muito cuidado: verificar se houve crime dela ou não, analisar o conjunto da obra dela e analisar o conjunto da obra dele. Na economia, Temer está a fazer o que eu venho propondo há cinco anos: austeridade e rigor. Mas no plano social não está a dar recados corretos. Quem vai pagar a conta? Foi votado um aumento para os funcionários da justiça, que já são mais bem pagos aqui do que no resto do mundo, o Bolsa Família será aumentado… Sem falar dos recados do ponto de vista ético: o governo Temer, constituído por homens, brancos e a contas com a justiça, está contaminado pelas suspeitas da Operação Lava-Jato e o discurso do presidente [em exercício] não tem sido claro sobre o tema.

Tem falado com Michel Temer e Dilma Rousseff? Eles procuraram-no para pedir o seu voto?

Tive reuniões com ambos, a pedido deles. Mas não usamos a palavra impeachment em nenhum dos encontros. Com a Dilma falamos mais de literatura do que de política e um pouco das crises das esquerdas. Ela disse-me que talvez convocasse um plebiscito, uma ideia que me agrada muito.

Alinha com a tese do “golpe”?

Temer foi escolhido por ela para vice-presidente. Ela disse ao eleitorado algo como “se me acontecer qualquer coisa, o país fica em boas mãos com ele”. Agora ele é “golpista”? O PT esteve iludido nestes cinco anos e meio? Sem os 54 milhões de votos nela, Temer não seria vice–presidente, mas sem os votos que o PMDB arrasta, ela não chegaria a 54 milhões…

Foi candidato à presidência em 2006 e ficou em quarto lugar. Em 2018 equaciona candidatar-se?

No meu partido ainda não falamos disso. É tão angustiante ter de escolher, em nome de milhares de eleitores meus, entre um, Temer, ou outra, Dilma, quando preferiria um terceiro ou um quarto nome, que prefiro nem pensar já em 2018… Escolher entre destituir alguém eleito ou em trazer esse alguém de volta é uma angústia.

Foi ministro de Lula. Desiludiu-se com ele? Ou não se desiludiu porque nunca se iludiu?

Eu fui ministro dele um ano. Saí do PT em 2005 desiludido com o PT, não pelos indícios de corrupção, porque eles só surgiram depois, mas porque senti que o PT perdera a capacidade transformadora, tornara-se reacionário e conservador. A minha desilusão foi mais com o partido e menos com o Lula, embora ele, um líder tão carismático, me tenha desiludido por não ter conseguido criar um grande pacto nacional. Só arranjos. Este país vive de arranjos, com sindicatos, com grandes corporações, com interesses, e nunca teve um projeto nacional.

Presumo que esse projeto nacional passasse pela educação, à qual dedicou boa parte da sua vida.

Claro. Eu criei, como governador do Distrito Federal, o Bolsa Escola, que depois o Fernando Henrique Cardoso adotou no governo federal e o Lula deu continuidade. Com o Lula passamos de quatro para 12 milhões de beneficiários, mas piorou o conteúdo educacional. Lula viu o projeto como assistencialista e não como pacto de emancipação que daria educação de qualidade a todos.

Como viu a determinação, depois revogada, do Ministério de Educação de tornar facultativa a leitura dos clássicos portugueses?

A ideia era fomentar as culturas africana e indígena que, como a portuguesa, fazem parte das nossas raízes, mas o que se devia fazer era estudar todas. Só que isso obriga a mais horas de aulas e ninguém quer, de verdade, investir na educação. Aqui estuda-se três horas, três horas e meia por dia nas escolas e não as seis do resto do mundo. Com seis, dava para estudar cultura africana, indígena, portuguesa e todos os clássicos da cultura ocidental…

Em São Paulo

Fonte;Global midia

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