Postado por Marcos Lima Mochila
No caso acerca do Senador Flávio Bolsonaro, tem-se o seguinte:
1) No uso de suas atribuições, o Coaf encontrou indícios de movimentações bancárias suspeitas no ano de 2016 num total de 75 servidores da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, sendo ao menos 20 deles Deputados Estaduais em cumprimento do seu mandato;
2) O total das movimentações suspeitas soma R$ 202 milhões, sendo os maiores volumes aqueles envolvendo os Deputados André Ceciliano do PT (R$ 49.3 milhões), Paulo Ramos do PDT (R$ 30.3 milhões), Márcio Pacheco do PSC (R$ 25.3 milhões), Luiz Martins do PDT (R$ 18.5 milhões), Dr. Adeodato do DEM (R$ 16.3 milhões) e Carlos Minc do PSB (R$ 16.0 milhões), os quais representam juntos 77% de todos os valores envolvidos;
3) Foram encontrados indícios de operações bancárias suspeitas envolvendo o ex assessor Fabrício Queiroz e o Senador (então Deputado) Flávio Bolsonaro, no valor total de R$ 1.3 milhões ou 0.6% do total relatado pelo Coaf para a ALERJ em 2016, havendo ainda evidências de transações nos quatro anos anteriores somando cerca de 5.8 milhões;
4) O grosso das movimentações envolvendo o Flávio Queiroz constitui-se de diversos depósitos em espécie realizados em valores individuais de R$ 2 mil, muitos dos quais realizados no intervalo de poucos minutos, num único mês chegando a totalizar R$ 96 mil, havendo ainda o pagamento de um título no valor de aproximadamente R$ 1 milhão;
5) O ex assessor Fabrício Queiroz ofereceu algumas explicações para o caso perante a imprensa mencionando que ele realiza diversas atividades envolvendo o comércio de veículos, mas, junto com a mulher e duas filhas (também citadas no relatório da Coaf), faltou a duas oitivas para se pronunciar oficialmente sobre a questão perante o Ministério Público do Rio devido a um tratamento para câncer;
6) Flávio Bolsonaro solicitou ao STF que se suspenda as investigações até que se decida em que instância do Judiciário deve tramitar, no que foi contemplado com uma suspensão temporária até que o relator do caso, havendo ainda reclamações do Senador de que as investigações foram inciadas e conduzidas sem que o mesmo fosse notificado e abrangendo quebra do seu sigilo bancário sem os devidos trâmites legais;
7) A investigação originada no Coaf e agora envolvendo o Ministério Público do Rio foi amplamente divulgada nos jornais e redes de notícias, porém quase todas focando no Senador Flávio Bolsonaro (0.6% do total suspeito apurado pelo Coaf) e praticamente ignorando os então Deputados Estaduais André Ceciliano do PT, aulo Ramos do PDT, Márcio Pacheco do PSC, Luiz Martins do PDT, Dr. Adeodato do DEM, e Carlos Minc do PSB (que somam 77% do volume apurado);
8) O Flávio Bolsonaro alega que as movimentações financeiras em questão envolvem transações imobiliárias e dividendos lojas de shopping center (franquias) nas quais tem sociedade, os quais foram depositados em espécie via caixas de auto atendimento na agência da Caixa Econômica da ALERJ, os quais tem limite de R$ 2 mil por envelope, sendo ainda apontado ao menos uma pessoa com quem foi realizada transação imobiliária com valores em espécie e identificado o pagamento de R$ 1 milhão como constituindo empréstimo imobiliário envolvendo a própria Caixa;
9) Não há qualquer investigação ou acusação recaindo sobre o Presidente Jair Messias Bolsonaro ou sua esposa no que se refere à questão (os famigerados R$ 24 mil recebidos por Michele Bolsonaro em um único pagamento não são incompatíveis com a renda do Flávio Quiroz, foram explicadas à luz de devolução de empréstimo facilmente comprovável e representam a única ligação com o caso), mas o Presidente declarou recentemente em Davos, na Suíça, onde participa do Fórum Econômico Mundias, que “Se por acaso ele [Flávio] errou e isso for provado, eu me arrependo como pai, mas ele terá que pagar o preço por essas ações, que não podemos aceitar”;
10) As investigações e tramitações jurídicas pertinentes relativas ao caso do Flávio Bolsonaro prosseguem, mas não se sabe ao certo o status dos casos relativos aos demais implicados no relatório da Coaf.
Avaliação
O caso em questão foi amplamente veiculado na mídia, com os fatos mais divulgados sendo aqueles que aparentam implicar o Senador Flávio Bolsonaro, embora o relatório da Coaf cite 20 outros então Deputados Estaduais, 16 dos quais movimentando valores mais elevados. Pouco ou mesmo nada se vê dos demais apontados pelo relatório da Coaf, embora seis representem 77% do total de R$ 202 milhões observados como suspeitos. Tem-se ainda diversos “vazamentos” à imprensa acerca do assunto, quase que sempre apenas acerca do Senador Flávio Bolsonaro.
Existem da parte do Flávio Bolsonaro muitas explicações e esclarecimentos a serem produzidos, bem como comprovações documentais, para que as suspeitas que recaem sobre ele sejam todas dirimidas. Contudo, ele se prontifica a apresentar tudo isso às autoridades competentes (quando estas forem identificadas formalmente pelo STF).
A Presidência da República e o Governo Federal como um todo não foram implicados pelo relatório da Coaf, não há indícios de qualquer interferência deles sobre as investigações, as quais estão em pleno andamento, sendo deixado claro pelo Presidente que os responsáveis devem ser enquadrados e punidos, mesmo que sejam seus parentes (no caso, filho).
Conclusões
As movimentações suspeitas dos servidores da ALERJ em 2016 apontadas pelo Coaf envolvem R$ 202 milhões em um único ano, com o envolvimento de 20 Deputados Estaduais, mas praticamente todo o espaço da imprensa dedica-se ao atual Senador Flávio Bolsonaro, o qual representa apenas 0.6% desse total, ignorando-se todos os demais, incluindo os seis maiores que somam 77% do valor global.
O Senador Flávio Bolsonaro ainda precisa apresentar todos os esclarecimentos necessários para dirimir as dúvidas pairando sobre as suas transações financeiras, incluindo aquelas abrangendo o ex assessor Fabrício Queiroz e o total das movimentações entre 2012 e 2016. Diferentemente do que parecia na divulgação inicial do assunto pela imprensa, porém, parece não ser completamente inconcebível uma explicação adequada, mas é preciso que esta seja efetivamente dada com as devidas comprovações oficiais.
O Presidente Jair Messias Bolsonaro, sua esposa Michelle e seus demais filhos, bem como a totalidade da equipe do Governo federal, não apresentam qualquer envolvimento com o caso levantado pelo Coaf. Tal questão continua com trâmite normal, submetida a até muito mais publicidade do que o exigido em lei, sem qualquer sinal ou sequer suspeita de interferência, sendo declarado pelo Presidente que a questão deverá prosseguir dentro da lei, mesmo que as consequências afetem negativamente o seu filho.
É forçoso concluir ser possível que todo o episódio envolvendo o Senador Flávio Bolsonaro não tenha qualquer crime ou sequer irregularidade, bem como que, mesmo que irregularidades ou crimes tenham porventura existido, o Governo Federal mostra-se fiel à sua agenda anticorrupção declarada. Mas, como sempre, é preciso ir acompanhando.