Ele ganhou do povo de Belo Jardim o cognome de “Baraúna do Agreste”

Por Marcos Lima Mochila

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Se não tivesse terminado de cumprir sua missão aqui na terra, em 2011 (no dia 24 de abril), o grande político belo-jardinense José Bezerra Mendonça estaria completando, hoje, 85 anos. Carinhosamente chamado de Mendonção, ele ganhou do povo de Belo Jardim o cognome de “Baraúna do Agreste”¹.

Tendo ingressado na política em meados da década de 60, elegeu-se deputado estadual pelo DEM em 1967, cumprindo 3 mandatos estaduais e 8 federais. Preparava-se para concorrer à sucessão de Marco Coca-Cola, companheiro de partido, quando a doença o venceu, no dia 24 de abril de 2011, impedindo-o de realizar o sonho de ser prefeito de sua terra natal.

Durante os 11 mandatos, por 44 anos, manteve-se fiel à legenda pela qual concorreu a um cargo eletivo pela 1ª vez: a Arena (Que depois passou a se denominar PDS, em seguida PFL e hoje é o DEM), embora não tenham faltado oportunidades e propostas para mudar de partido, como quando foi convidado para disputar o Senado na chapa de Arraes.

Mendonção foi um dos articuladores da aliança que levou o então PFL, o PMDB e, mais tarde, o PSDB, ao comando do Palácio do Campo das Princesas por oito anos, elegendo Jarbas Vasconcelos – depois sendo reeleito -, que teve como vice Mendonça Filho.

Tendo sido um dos deputados constituintes em 1988, já pelo PFL, Mendonção tinha um temperamento forte e não levava desaforos para casa. Em 2009, protagonizou uma polêmica com Sérgio Guerra (PSDB), quando o também já falecido político pernambucano afirmou que a União por Pernambuco estava “ultrapassada”.

Apesar desses arroubos, era muito dedicado aos amigos. Durante seus oito mandatos em Brasília, o seu apartamento funcional era ponto de encontro dos colegas não só da bancada pernambucana como de outros estados. Nas conversas de Brasília, Mendonção viabilizava não só projetos legislativos como também políticos, demonstrando seu perfil de um construtor de pontes e artífice do entendimento.

Desportista nato, José Mendonça Bezerra, torcedor ferrenho do Santa Cruz Futebol Clube, foi seu presidente no biênio 2001/2002 e, ao completar 70 anos, fundou o time de futebol de Belo Jardim, cujo estádio é o Sesc Mendonção.

Outra paixão de Mendonção era assistir novelas. Era um noveleiro de mão cheia e, sempre que podia, gostava de acompanhar as novelas da Globo.

Apesar de ser pai de seis filhos, do seu casamento com Estefânia Maria Nazaré de Moura Bezerra, da família dos proprietários da Baterias Moura, Mendonção nutria um carinho diferenciado por Mendonça Filho, tendo sempre considerado o mesmo como seu sucessor na Política.

Em 2010, eu apresentava um programa na TV Universitária – Canal 11, de Recife, o ETC – Esportes, Turismo, Cultura e Etc no qual, mensalmente, homenageávamos uma personalidade de um desses segmentos. Esses programas especiais sempre eram gravados no Restaurante Ponteio, quando o mesmo se situava ainda na Avenida Boa Viagem (Atualmente, o Ponteio funciona no local onde funcionava o Laçador).

Quando resolvemos homenagear Mendonção, a produção teve que esperar quase 10 dias para a confirmação de sua ida ao programa, uma vez que ele só queria ir receber a homenagem quando Mendonça Filho, que se encontrava em campanha para deputado federal, pudesse acompanhá-lo. Finalmente, Mendoncinha encontrou uma vaga na atribulada agenda e pôde acompanhar seu pai na gravação.

O carinho entre os dois era visível e digno de admiração. Era comum, ao se encontrarem, como no dia da gravação do programa, o pedido de bênção de Mendoncinha, acompanhado do beijo na mão do pai.

Infelizmente, a Baraúna do Agreste morreu sem ter o prazer e o orgulho de ver o filho tão querido brilhar no Ministério da Educação, embora o tenha visto como governador de Pernambuco, no período de 31 de março de 2006 a 1 de janeiro de 2007, substituindo Jarbas Vasconcelos, que havia se lançado candidato a senador.

Mendonção foi, sem dúvida, um dos políticos pernambucanos que muito orgulhou Pernambuco e o seu povo.

¹ Também chamada de braúna ou graúna, nomes mais frequentes no falar do campo, é uma árvore leguminosa de grande porte que fornece uma madeira escura, muito resistente e durável.

É amplamente utilizada nas propriedades agrícolas. Dela, em geral, são feitos os mourões das cercas de arame farpado.

(*) Marcos Lima Mochila é redator-chefe da Revista Total, do Blog Revista Total e do PortalDifusão Brasil.

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