Trabalhador tem até março de 2020 para retirar a quantia de contas ativas e inativas. Novas regras anunciadas pelo governo permitem opção por resgates anuais, a partir do ano que vem, para quem abrir mão do valor integral do fundo em demissões sem justa causa

(Foto: Fernando Lopes/CB/D.A Press)
(Foto: Fernando Lopes/CB/D.A Press)

Por: HF Hamilton Ferrari  RH Rosana Hessel

Postado por Marcos Lima Mochila

 

 

A partir de setembro, 96 milhões de brasileiros poderão iniciar os saques de contas ativas e inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Outros 10 milhões de trabalhadores dos setores público e privado também poderão fazer retirada das contas do Programa de Integração Social (PIS) e do Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pasep) no próximo mês. As novas regras para saque desses fundos fazem parte da medida provisória assinada nesta quarta-feira (24/7) pelo presidente Jair Bolsonaro, e publicada em edição extra do Diário Oficial da União. Conheça os detalhes e regras para o saque ao fim deste texto.

O anúncio foi feito pelo presidente, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e os presidentes da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, e do Banco do Brasil, Rubem Novaes. A previsão dos técnicos do governo é de que R$ 42 bilhões sejam sacados do FGTS e do PIS-Pasep, neste ano e no próximo, o que daria um impacto de 0,35 ponto percentual na economia em 12 meses.

Pelas estimativas do secretário de Política Econômica (SPE), Adolfo Sachsida, o incremento no Produto Interno Bruto (PIB), em 2019, poderá chegar a 0,25 ponto percentual. Recentemente, o governo reduziu de 1,6% para 0,8% a previsão de crescimento. A longo prazo, o Ministério da Economia espera um aumento de 2,6 ponto percentual na renda per capita — de aproximadamente R$ 840 —, alta de 5,6% na população ocupada e mais 2,9 milhões de empregos formais.

Pelas novas regras, o trabalhador poderá resgatar até R$ 500 das contas ativas e inativas entre setembro deste ano e março de 2020. Um trabalhador que tem mais de uma conta, portanto, terá o direito de sacar até esse limite em cada uma delas. Segundo Sachsida, as medidas beneficiam os mais pobres, já que 81% das contas ativas e inativas do FGTS têm até R$ 500 — atinge 54,7 milhões de pessoas. O secretário afirmou que o governo federal está devolvendo o dinheiro depositado há anos pelos trabalhadores no fundo.Continua depois da publicidade

Estruturais

A maior parte das mudanças estruturais ocorrerá a partir de 2020. Uma delas é a criação do saque aniversário, que é a opção que o trabalhador tem de resgatar, anualmente, uma parcela dos recursos do FGTS, conforme uma percentagem que incide sobre o saldo disponível. A alíquota varia de 5%, para retiradas acima de R$ 20 mil, a 50%, em valores até R$ 500. Além disso, haverá o pagamento de uma parcela adicional, que vai de R$ 50 a R$ 2,9 mil.

A pessoa poderá aderir ao saque aniversário a partir de outubro, com o primeiro pagamento previsto para abril. Para receber os recursos anualmente, terá que abrir mão do resgate total do fundo em casos de demissão sem justa causa. Mesmo assim, continuará com o direito à multa de 40% nestes casos.

O trabalhador terá a opção de retornar para o saque rescisão, mas a migração se dará dois anos após a data da demissão. Ainda que desista do saque aniversário, ele só terá direito aos valores depositados na conta a partir do fim da carência, que é de 25 meses. Para Sachsida, a medida provisória ataca o problema da má alocação do dinheiro e estimula a produtividade na economia. Na interpretação do secretário, haverá menos rotatividade de trabalhadores nas empresas, incentivando treinamento de profissionais.

Empoçamento

O ministro da Economia, Paulo Guedes, durante o discurso do “Saque certo” — como é chamada a MP do FGTS — no Palácio do Planalto, defendeu mudanças nas regras de liberação de recursos, para evitar o empoçamento que vem ocorrendo e impede que o dinheiro não gasto em uma determinada pasta passe para outra. “Tem mais de R$ 30 bilhões empoçados. E vamos ter que derrubar isso”, disse.

Segundo Guedes, os saques do FGTS e do PIS-Pasep devem beneficiar 106 milhões de brasileiros, sendo 96 milhões de contas do FGTS e 10 milhões do PIS-Pasep. “É o aumento de renda permanente e o trabalhador vai poder escolher se quer esse novo regime ou não. Tem que ser uma alternativa”, disse.

O secretário de Política Econômica afirmou ainda que o uso de recebíveis de saques do FGTS tem um potencial “bilionário” para o mercado de crédito. Os cotistas poderão utilizar parte do dinheiro, a partir do próximo ano, como garantia na obtenção de financiamentos. Sachsida afirmou que a MP vai gerar um aumento de R$ 11,3 bilhões na contribuição ao FGTS.

O governo também vai liberar saques das cotas do fundo PIS-Pasep, que tem, ao todo, R$ 23 bilhões. Apesar disso, a equipe econômica fez uma estimativa conservadora de que apenas R$ 2 bilhões vão ser resgatados. Os recursos são de pessoas que trabalharam entre 1971 e 1988. Atualmente, só pode sacar o dinheiro quem tem 60 anos ou mais e condições, como aposentadoria, invalidez, doenças graves e outros.

No ano passado, o governo Michel Temer permitiu o saque por idade em prazo limitado. Agora, o trabalhador não terá tempo determinado para retirar o montante. Como parte do público já morreu, o governo vai facilitar que herdeiros tenham acesso ao recurso. Os cotistas com recursos referentes ao PIS poderão sacar na Caixa e os do Pasep, no Banco do Brasil. No primeiro, os saques estão previstos para agosto.

Pelos cálculos do presidente da Caixa, Pedro Guimarães, entre 150 milhões e 180 milhões de pessoas deverão passar pelas agências durante o período de saque. Isso porque, “vários vão mais de uma vez” para efetivar o saque.

Veja as regras para saques do FGTS e do PIS-Pasep:

>> FGTS

Saque imediato de até R$ 500

No caso do FGTS, o trabalhador poderá resgatar até R$ 500 neste ano. De acordo com o Ministério da Economia, 81% das contas do fundo (seja ativas ou inativas) têm até este valor, o que beneficiaria os mais pobres

Em caso de mais de uma conta

Um trabalhador que tem mais de uma conta poderá sacar mais. Por exemplo, uma pessoa com três contas com mais de R$ 500 em cada uma poderá sacar R$ 1,5 mil

Período do primeiro saque

O primeiro saque será autorizado a partir de setembro de 2019, e o prazo para retirar o dinheiro terminará em março de 2020

Saque-aniversário

A partir de 2020, o trabalhador poderá sacar parte dos recursos anualmente, sempre no mês do aniversário. Mas, como no ano que vem os saques começam em abril, os aniversariantes do primeiro semestre terão um calendário distinto:

Aniversariantes de:

Janeiro e fevereiro: saque em abril de 2020

Março e abril: saque em maio de 2020

Maio e junho: saque em junho de 2020

A partir de julho de 2020, passa a figurar a regra do saque no mês do aniversário

Valor dos saques anuais

A nova modalidade contará com um escalonamento similar ao que ocorre no cálculo do Imposto de Renda (IR). Quanto mais recursos houver na conta, menor a porcentagem que poderá ser sacada. Por outro lado, um valor adicional fixo será acrescentado a esse primeiro valor.

A alíquota de saque varia de 50% (para contas com até R$ 500) a 5% (acima de R$ 20 mil). Já os valores fixos adicionais vão de R$ 0 a R$ 2.900,00, respectivamente (veja tabela abaixo). Por exemplo: quem tem R$ 25 mil na conta, poderá sacar anualmente R$ 1.250 (5%) mais a parcela adicional de R$ 2.900, totalizando R$ 4.150,00.

Tabela do saque-aniversário

Até R$ 500 na conta: 50%, sem valor adicional  — 50 — X

De R$ 500,01 a R$ 1 mil: 40% mais R$ 50

De R$ 1.000,01 a R$ 5 mil: 30% mais R$ 150

De R$ 5.000,01 a R$ 10 mil: 20% mais R$ 650

De R$ 10.000,01 a R$ 15 mil: 15% mais R$ 1.150

De R$ 15.000,01 a R$ 20 mil: 10% mais R$ 1.900

Acima de R$ 20 mil: 5% mais R$ 2.900

Adesão ao saque aniversário

O saque imediato de até R$ 500 estará disponível para todos os trabalhadores a partir de setembro. Já o saque-aniversário precisa de adesão, que poderá ser feita a partir de outubro deste ano

Do que se abre mão

Quem optar pelo saque aniversário abrirá mão do saque automático de todo o FGTS em caso de demissão sem justa causa. Ele só poderá retornar à regra antiga depois de dois anos da demissão

Garantia de empréstimo

O trabalhador que migrar para o saque-aniversário poderá utilizar os recursos do FGTS recebidos anualmente como garantia para empréstimo pessoal. A parcela do empréstimo em vencimento será descontada diretamente da conta do trabalhador no fundo.

Rentabilidade

O governo também aumentou o ganho para os cotistas. Com a nova regra, 100% da rentabilidade do FGTS vai retornar para o trabalhador. Hoje, apenas 50% do rendimento é destinado ao cotista. O fundo segue tendo sua rentabilidade equivalente à Taxa Referencial (TR), acrescida de 3% ao ano.

O trabalhador continuará a poder sacar os recursos com as regras atuais:

  • Demissão sem justa causa (se não optar pelo saque-aniversário);
  • Término do contrato por prazo determinado;
  • Rescisão por falência, falecimento do empregador individual, empregador doméstico ou nulidade do contrato;
  • Rescisão do contrato por culpa recíproca ou força maior;
  • Aposentadoria;
  • Necessidade pessoal, urgente e grave, decorrente de desastre natural causado por chuvas ou inundações que tenham atingido a área de residência do trabalhador, quando a situação de emergência ou o estado de calamidade pública for assim reconhecido, por meio de portaria do Governo Federal;
  • Falecimento do trabalhador;
  • Idade igual ou superior a 70 anos;
  • Portador de HIV – SIDA/AIDS (trabalhador ou dependente);
  • Aquisição de casa própria, liquidação ou amortização de dívida ou pagamento de parte das prestações de financiamento habitacional.

>> PIS-PASEP

Outro fundo

O Ministério da Economia permitirá o saque dos PIS-Pasep sem prazo determinado para a retirada. Há R$ 23 bilhões nos fundos, de trabalhadores que tiveram carteira assinada entre 1971 e 1988.

Filhos e outros

O governo estima, de forma conservadora, que os saques atinjam R$ 2 bilhões. Como muitos beneficiários já morreram, o saque para herdeiros será facilitado. Os recursos do PIS são retirados na Caixa, enquanto que os do Pasep, no Banco do Brasil.

Fonte: Ministério da Economia             

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