06 07 ABANDONO TRAB INFANTIL

Por Marcos Lima Mochila

 

Causa-me uma grande felicidade ver o quanto os brasileiros se preocupam com as crianças. Isso se deduz depois do levante contra o presidente Bolsonaro, por ele  ter citado ‘‘não ter sido prejudicado em nada por ter trabalhado na infância’. “O trabalho enobrece”, ressaltou.

A principal e mais influente entidade dos juízes do Trabalho divulgou nesta sexta, 5, nota de repúdio às declarações do presidente Jair Bolsonaro.

Na avaliação da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), Bolsonaro defendeu o trabalho infantil. “O presidente demonstra desconhecer por completo a realidade de mais de dois milhões de crianças e adolescentes massacrados pelo trabalho em condições superiores às suas forças físicas e mentais”, reagiu a Anamatra.

06 07 ABANDONO 3O que me estupefa, além da felicidade, é ver que esta e outras entidades que reagiram contra a declaração do presidente, não reagem nem fazem nada para solucionar o problema de muitas vezes mais que dois milhões de crianças e adolescentes, massacrados pela fome, pelas más condições de vida, pela falta de um teto, de escola e de segurança. Crianças e 06 07 ABANDONO 4adolescentes estes que penam pelas ruas, diuturnamente, a implorarem ‘um real’ para comprar um pão e matar um pouco do que lhes mata aos poucos: a fome.

Não vi jamais, ao longo de minha vida, ninguém apresentar um projeto para tirar essas criaturas das ruas e, consequentemente, da miséria em que vivem.

O que prejudica mais essas crianças e esses adolescentes: um trabalho que lhes garanta pelo menos o pão de cada dia ou a fome e a insegurança das ruas, onde elas ficam aos milhares, a mendigarem um pedaço de pão?

06 07 ABANDONOO que falta ao nosso país é um choque de  realidade. O que nos falta é saber discernir o que é bom e o que é ruim para quem não sabe o que é refestelar-se em mesas fartas, onde jorram uísques e champanhas e a realidade é bem diferente. No caso desses magistrados que condenam a declaração do presidente, a quantidade de benefícios é muito grande, o que lhes garante que, na prática, o salário formal seja multiplicado. É graças aos chamados penduricalhos que cada um dos quase 120 mil juízes brasileiros recebe, em média, R$ 47.700, o equivalente a 50 salários mínimos. E esse é o rendimento nacional. No Rio de Janeiro, os magistrados ganham mais: R$ 65.691, na média. Em Goiás, R$ 70.573. No Mato Grosso do Sul, R$ 95.895. Enquanto isso, o salário médio do brasileiro, segundo o IBGE, é de R$ 2.154. e o dessas crianças que penam nas ruas, mendigando, é ZERO!

Além de salários invejáveis, autoridades do Judiciário, Legislativo, Ministério Público e Tribunal de Contas têm uma06 07 ABANDONO OU TI 1 lista de outros benefícios, tais como auxílio-moradia de R$ 4,3 mil, auxílio-saúde correspondente a 10% do vencimento – pago aos magistrados e membros do MP e TCE –, licença remunerada para estudar no exterior e férias de 60 dias por ano.

Plenário da Câmara dos Deputados aprova o texto-base da proposta que cria um novo marco regulatório para o transporte rodoviário de cargas no País (PL 4860/16).
Plenário da Câmara dos Deputados

No Legislativo, vereadores e deputados recebem dois salários extras, no período de quatro anos, para comprar terno e gravata. Se multiplicarmos o número de deputados, sabendo-se que o Brasil conta atualmente com 513 deputados federais e 1059 deputados estaduais em atividade, vamos brincar de estudar matemática? 1.059 + 513 = 1.572 x R$ 998,00 x 2 = R$ 3.137.712,00. Esse é o valor que nós, brasileiros, pagamos para nossos representantes nas assembleias estaduais e na Câmara Federal, comprarem terno e gravata.

Pasmem! Este é o valor mensal.

Estou falando apenas de um item de ganhos, apenas de autoridades do Legislativo (deputados federais e estaduais). Faltam os senadores, as autoridades do Judiciário, Ministério Público e Tribunal de Contas.

E faltam os vereadores de 5 570 municípios, com seus altos salários e seus penduricalhos.06 07 abandono brasil

06 07 ABANDONO 1Esses ganhos de ternos e gravatas dariam para alimentar e oferecer um teto a quantas crianças?

Será que nossas autoridades já pensaram nisso e já tiveram pelo menos, em sonho, a vontade de  abdicarem desses ganhos em prol das crianças e adolescentes que vegetam pelas ruas do país?

Como o presidente levantou essa lebre, pode ser que, em vez de se preocuparem apenas  com as crianças e os adolescentes que trabalham, preocupem-se, também, com os que mendigam.

Ah! Gostaria de frisar que eu comecei a trabalhar aos 11 anos de idade, com meu irmão de 16, numa empresa de bebidas, montando caixões de cervejas e refrigerantes, utilizando-me de equipamentos altamente sofisticados: madeira, martelo e pregos. Sem carteira assinada. Aos 16 anos eu ingressei no Diário de Pernambuco, como  office boy. Estudei sempre em escolas particulares no primário, ginásio e científico. Sempre passei por média – hoje quase ninguém sabe o que é isso. E fui 16º colocado no Vestibular de Odontologia da Faculdade de Odontologia de PE – FOP, tendo abandonado o curso no 4º ano porque meu sonho era ser jornalista.

O dinheiro que eu ganhei quando criança e adolescente me ajudava a comprar livros extracurriculares, ir ao cinema – com a namorada – e frequentar os clubes de minha cidade para dançar, nos finais de semana.

E estou vivo…

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