Sem conclusão da rede de captação de águas pluviais e pavimentação em Vicente Pires, problemas devem persistir. Trechos prontos, como na Vila São José, estão se desfazendo pela demora

Trabalhos de construção interrompidos têm gerado mais transtornos no asfalto, que cede com a passagem de água e buracos que fazem os carros atolarem. (Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Trabalhos de construção interrompidos têm gerado mais transtornos no asfalto, que cede com a passagem de água e buracos que fazem os carros atolarem. (Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Bruna Lima / Correio Braziliense

Postado por Marcos Lima Mochila

 

Quando chove, alaga e ainda há uma enxurrada de lama. Se faz sol, sobe a poeira. Esse é o cotidiano da Vila São José, em Vicente Pires. Mesmo com a rede de drenagem praticamente concluída e parte das ruas pavimentadas, moradores reclamam que a situação piorou. Na principal via que corta a região, o asfalto cede com a passagem da água, que chega com força das ruas de cima e inunda casas e comércios. Os buracos, tapados provisoriamente com terra vermelha, reaparecem com o passar da correnteza e dos carros. Enquanto isso, construções em outros trechos diretamente ligados à vila podem prolongar a continuidade dos problemas.

Moradora da área há 19 anos, a empresária e cozinheira Nair Dias, 66 anos, acredita que as obras trouxeram mais transtornos do que resultados. “O asfalto era grosso, parecia um tapete. Substituíram por esse, fininho, que não aguenta água”, diz.

Parte da correnteza e o que ela arrasta vai diretamente para as casas, que foram construídas em uma espécie de vale. O lote do chacareiro Osias Andrade, 59, serve como entrada para esse problema. “Toda a água que desce da rua vem para cá, por ser o lote mais baixo”, conta. Para tentar resolver o problema, Osias comprou manilhas que pretendia instalar na chácara, mas, com o início das obras do GDF, interrompeu o processo por acreditar que, com elas, a questão seria solucionada. “Por mais que, por enquanto, seja só transtorno, sei que o serviço não é fácil e está sendo bem-feito”.

A Secretaria de Obras e Infraestrutura do DF confirma o estágio avançado das intervenções na Vila São José, o que não se traduz em efetividade imediata do sistema, como observa o subsecretário de Acompanhamento e Fiscalização de Obras (Suaf), Marcelo Galimberti. “Mesmo que as instalações das manilhas estejam prontas, ainda não há funcionalidade, já que o sistema precisa estar interligado e isso requer a conclusão das construções de drenagem, pavimentação e abertura das bocas de lobo nas demais áreas”, explica. Ele explica, ainda, que a manta asfáltica aplicada é provisória e serve  para dar mais conforto à população.

Para resolver o problema das águas que vêm do Pistão Norte, em Taguatinga, entram na Vila São José e ganham força ao longo da Rua 8 de Vicente Pires, é preciso, primeiramente, concluir toda a obra ao longo da via, que tem mais de 4,6 quilômetros de extensão. Por causa da declividade da rua, que tem uma diferença de 125 metros — o equivalente a um prédio de 41 andares —, a força do acumulado de chuvas chega a atingir 60 metros por segundo. O canal da Rua 8 deverá se encontrar com o da Rua 3. A coleta das tubulações desse trecho vai ser lançada em uma das 22 bacias de contenção que estão sendo construídas na cidade. Com tudo pronto, a expectativa é de que a velocidade com que a água desce seja reduzida para dois metros por segundo.

Desistência

O governo espera entregar as obras da Rua 8 em outubro. No entanto, um entrave fez com que parte das obras parasse há mais de três meses. A construtora vencedora da licitação do lote 8, um dos quatro trechos que parcelam a Rua 8, rompeu o contrato com o GDF. A segunda colocada, a GAE Construtora, chegou a se instalar para assumir os trabalhos, mas, alegando falta de rentabilidade, também está passando o serviço adiante. A Secretaria de Obras tem de chamar, agora, a empresa que ficou em terceiro lugar. O trâmite deve demorar, no mínimo, um mês. Caso nenhuma das selecionadas queira concluir a obra, a alternativa é fazer uma nova licitação, o que pode levar mais de um ano de processo.

Enquanto isso, moradores da região arcam com falta de estrutura e custos para consertar veículos. É o que afirma a atendente Larissa Machado, 22. “Os carros ficam atolados”, reclama. Grandes buracos abertos para instalar as tubulações tomaram uma das faixas da pista, que é de mão dupla, por isso, os veículos precisam se revezar na travessia. Por falta de calçadas e rampas, quem também divide o espaço com os carros são as rodas do cadeirante Marcos Rabelo, 30. “São muitos buracos e nenhuma acessibilidade. Na hora de pedir um Uber, é outra complicação, porque muitos rejeitam ao saberem que a corrida sairá de Vicente Pires”, lamenta.

O motivo que leva à desistência por parte das empresas construtoras seria a existência de uma pedra encontrada no local onde deveriam passar as tubulações. Como o contrato firmado segue o regime de empreitada por preço unitário, ou seja, por serviço executado, interferências como essa não estão previstas na licitação —  já que deveriam ter sido detectadas pela análise geotécnica antes do início das obras. Nesse caso, a alternativa das empresas é solicitar um valor adicional ao contrato. Para o especialista na área Dickran Berberian, engenheiro geotécnico e professor da Universidade de Brasília (UnB), apesar da limitação, o problema pode ser facilmente contornado com sondagens feitas pelas próprias empresas. “Não há razão para paralisar, já que a cidade carece das melhorias. No entanto, a solicitação de um aditivo para solucionar o problema precisa ser rigorosamente fiscalizada”, pondera.

O subsecretário Marcelo Galimberti afirma que essa análise exige pelo menos três meses. “Há um esforço muito grande para dar celeridade ao processo, respeitando a legalidade. Mas é necessário que a população entenda que o que está sendo feito agora é o processo inverso. Vicente Pires nasce de cima para baixo, quando deveria ter sido o contrário”, diz Galimberti, se referindo à construção sem planejamento da cidade.

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