Travessias Cepe Editora – encontros sobre literatura e crítica ocorre de 19 a 21 de novembro, na Caixa Cultural, no Bairro do Recife

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No momento atual, debater literatura e crítica se faz mais que relevante. Para marcar os dez anos da Cepe Editora e reunir em debate tanto o público universitário quanto o leitor em geral, ocorre de 19 a 21 de novembro o evento Travessias Cepe Editora – encontros sobre literatura e crítica.

“Não há como o nome de um evento sobre literatura e crítica ser mais oportuno no momento atual. Creio que fortalecer a literatura e a crítica é essencial para redescobrir a nossa identidade, nessa jornada que chamamos Brasil”, destaca o editor da Cepe, Wellington de Melo.

Na programação, mesas de debate e minicursos, além do lançamento de dez livros de poesia, conto e romance. Intitulado O direito à leitura literária, o minicurso ministrado pelo professor titular de Literatura Comparada da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) propõe esse “direito” como uma exigência contemporânea urgente em tempos de fake news.

Entre os lançamentos literários, cinco são vencedores do Prêmio Cepe de Literatura 2017, entre os quais A flor lilás, do pernambucano Ricardo Braga. Destaque também para uma nova edição do título Espaço Terrestre, romance do premiado escritor pernambucano Gilvan Lemos (1928-2015). Dois outros títulos fazem uma análise mais crítica sobre poesia e literatura: Pequena voz – Anotações sobre poesia, do português Nuno Félix da Costa, e O insistente inacabado, de Luiz Costa Lima.

Considerada a segunda maior editora entre as de imprensa oficial do País, a Cepe Editora conta com um extenso e diversificado catálogo de publicações. São mais de 340 títulos entre poesia, crônica, ensaios, biografias, livros de arte, arquitetura, comunicação, infantojuvenis e de história, escritos por uma gama de autores locais e nacionais. O cuidado editorial e gráfico já recebeu diversos prêmios e indicações como o Prêmio Jabuti pelo À Francesa: A belle èpoque do Comer e do Beber no Recife, de Frederico de Oliveira Toscano, em 2015.

TRAVESSIAS CEPE EDITORA

PROGRAMAÇÃO

19 e 20/11 – 14h às 17h

Minicurso: “O direito à leitura literária”, com João Cezar Castro Rocha (UERJ)

Em ensaio célebre, O direito à literatura, Antonio Candido afirmou a centralidade da literatura, ou seja, da capacidade de criar mundos imaginários. Neste curso, proporei uma noção nova: “o direito à leitura literária” como a exigência contemporânea mais urgente em tempos de “fake news” e “fatos alternativos”. “O Alienista”, de Machado de Assis, será discutido, além de uma seleção de poemas.

20/11 – 19h

Mesa Pequena voz: anotações sobre poesia, com Lourival Holanda (UFPE) conversa com o poeta Nuno Félix da Costa

20h30 – Lançamentos

Pequena voz: anotações sobre poesia, de Nuno Félix da Costa; Terêza Tenório, poesia reunida, de Terêza Tenório; O azul também se revolta, de Paulo Gustavo; Mulher sob a influência do algoritmo, de Rita Isadora Pessoa (vencedora na categoria Poesia do Prêmio Cepe Nacional de Literatura)

21/11 – 19h

Mesa: “O insistente inacabado”

Anco Márcio Tenório Vieira (UFPE) conversa com crítico Luiz Costa Lima

20h30 – Lançamentos

O insistente inacabado, de Luiz Costa Lima; O colecionador de baleias, de Rômulo César Melo; Anjo negro, de Paulo Schmidt (vencedor na categoria romance do Prêmio Cepe Nacional de Literatura); A flor lilás, de Ricardo Braga (vencedor na categoria contos do Prêmio Cepe Nacional de Literatura); Lázaro caminha sobre o abismo, de Augusto Ferraz; Espaço Terrestre, de Gilvan Lemos.

SINOPSES

O colecionador de baleias (Rômulo César Melo)

Páginas: 132

Preço: R$ 20 (livro impresso); R$ 6 (E-book)

Contatos: 3226-0833/ 99145-3632 / rcmelo@hotlink.com.br

Na coletânea de 17 contos, o que dá título ao livro, O colecionador de baleias, encerra a obra “com gosto de sal e sangue na boca”, mesma sensação que se tem ao longo de toda a leitura. A morte em suas diversas nuances é visita constante na narrativa do autor. De deixar a vista turva devido aos olhos molhados. No conto citado, o personagem Johnnie Fischer – vejam só a ironia do nome – era o menino que colecionava baleias, ou melhor, figuras delas. Nunca as viu de perto a não ser quando decidiu que sua hora havia chegado. “Imaginou ter completado a página e a coleção, segundos antes de afundar”.

Em outro conto, a morte não é descrita com tanta beleza. Ao contrário, se mostra indigna: “ficar deitada, nua, enquanto te vestem com a melhor roupa, as pessoas com cara de nojo pelo cheiro da decomposição”.

O tema fúnebre é apenas o desfecho do sofrimento da vida, entremeada por paixões logo arrefecidas, feitas em pedaços costurados como retalhos que o tempo leva como a correnteza do rio. “O amor se transforma em algo entre o silêncio e a paciência de aturar a sombra diária de um estranho íntimo a dividir a cama”. Rômulo foi vencedor do II Prêmio Pernambuco de Literatura com outro livro de contos, Dois nós na gravata (2015).

Pequena Voz: Anotações sobre poesia (Nuno Félix da Costa)

Páginas: 320

Contato:nunofelixdacosta@gmail.com

“Um poeta não deveria falar de poesia – tem dela sempre uma ideia inútil para os outros”, diz o autor português de 68 anos na primeira frase do livro editado pela segunda vez no Brasil, agora pela Cepe. A obra que o psiquiatra, pintor e fotógrafo Nuno Félix da Costa passou dez anos para escrever fala da importância da poesia para o desenvolvimento do pensamento. Assim como o é a filosofia.

O cronista e também poeta cearense Everardo Norões destaca no prefácio “o quanto era importante ‘pensar com a poesia quando não havia ciência nem filosofia’, pois era a única língua possível”.

Antagonista em sua essência, Nuno Félix diz que a poesia é ao mesmo tempo antiga e contemporânea. Mas é de uma maneira singular que o autor trata do assunto. “O poema descobre harmonia nas desconexões sinfônicas ou jazzísticas da realidade”.

Não é um manual, um tratado, ou várias definições herméticas sobre poesia ou sobre poetas. “É imperceptível o momento em que uma ideia se torna poética”.

Tal como a poesia, o livro de Nuno Félix é fragmentário e guarda o despropósito permitido à linguagem poética, como diz o autor. “Quem tiver a sorte de conhecer ou possuir a linguagem da poesia nunca mais consegue a prosa: a sua lentidão, a sua pesporrência argumentativa enerva; A poesia é uma desinstrumentalização”.

Capa_Lazaro caminha sobre o abismo_FINAL.inddLázaro caminha sobre o abismo (Augusto Ferraz)

Páginas: 230

Preço: R$ 30 (livro impresso); R$ 8 (E-book)

Contato: Augusto Ferraz (99963-09390)

Em Lázaro caminha sobre o abismo a prosa flerta com a poesia na descrição dos sentimentos e sensações do narrador. Assim o conceito de vida e morte ganha uma dimensão particular no texto de Augusto Ferraz que diz: “Cada um tem um morto dentro de si”. E Lázaro personifica essa alegoria.

O romance parte de uma frase em caixa baixa e termina sem ponto final, numa estrutura fragmentada que remete à continuidade. Assassinado em plena Avenida Paulista, Lázaro, que é escritor, começa então a andar e ganhar vida.

“A palavra que lentamente pinga sobre a manhã desenhada na folha de papel é o sol dentro da minha masmorra de pedra. Faz-me abrir a porta de mim mesmo deixando o morto sair para uma outra vida. A vida que é dele própria. Na palavra, sou alma”, justifica o autor em Lázaro.

A ideia de que somos mortos-vivos se solidifica a partir da construção de um ambiente impessoal e solitário, em que o narrador mergulha para refletir sobre sua condição no mundo: “Sou um morto humano de alma ardente”.

Este é o nono título de Augusto, único romance do autor, que faz uma clara referência ao Lázaro bíblico. “Para mim esta é a passagem mais perturbadora da Bíblia (quando Jesus Cristo ressuscita o morto após quatro dias), diz o escritor.

O azul também se revolta (Paulo Gustavo)

Páginas: 124 páginas

Preço: R$ 20 (livro impresso); R$ 6 (E-book)

Contato: 3034-9332/ paulogustavo50@hotmail.com

Nem todo mar é sempre tranquilo; nem todo azul é calmo. Cinquenta poesias são envolvidas por um valioso prefácio de Anco Márcio Tenório Vieira, que analisa a obra do mestre em Literatura pela UFPE  imortal da Academia Pernambucana de Letras (APL) em 12 das 124 páginas.

Membro da chamada Geração de 65, conhecida pela multiplicidade de poéticas e pela ruptura de linguagens.  Em certo ponto, Anco Márcio resume a poesia de Paulo Gustavo em relação aos seus pares: “mais condensada, concisa e menos retórica”. Seus integrantes também não se prenderam a questões de tempo e espaço.

Ao citar o belo em  O Amante, é preciso trazer seu significado para o contemporâneo, que é transgressor das formas artísticas e estéticas do passado. Sou um dócil amante da Beleza/ Cumpro suas ordens, desconheço-me, /Corro entre muralhas para alcançá-la, /Queimo os séculos que me alimentaram/ Para tocar seu vulto(…)

Para Paulo Gustavo, diz Anco Márcio, a poesia precisa ser ativa e passiva. O escritor a utiliza para mostrar o que ela, metáfora da própria vida, faz conosco. Vida esta que nos leva a caminhos que escolhemos, e também aos que somos levados a escolher.

Poesia reunida (Tereza Tenório)

Páginas: 504

Contato: Wellington de Melo (98260-7770)

O universo cósmico e imaginário da poesia de Tereza Tenório é agrupado pela Cepe Editora em primeira antologia própria. A Poesia Reunida da recifense, nascida em 1949, obedece a ordem cronológica de suas publicações, começando pelo Parábola (1970) e terminando com A casa que dorme (2003), organização feita a pedido da poeta. A escritora, nome de destaque da geração de 1965, começou publicando seus versos no Suplemento Literário do Diário de Pernambuco. Em 1994, Tereza escreveu o poema O narguilé do xamã de Cybelius Manzini, no livro O corpo da Terra. Expressivamente mais longo que os demais, o poema se destaca por seu caráter experimental. Intrínsecos à sua escrita, os elementos míticos, de crenças diversas (mitologia europeia, ocultismo e tradição judaico-cristã), se fizeram presente em sua produção literária, esta que nunca chegou a ser média, mas permanece com potência de provocar sensações particulares.

Mulher sob a influência de um algoritmo (Rita Isadora Pessoa)

Páginas: 76

Contato: (21) 99419-4033. ritaisadora@gmail.com

Mulher ultraviolenta; com muita paciência; com um passado. Mulher que não nasceu mulher; “mulher que apanha, mas bate de volta”; morta, “mulher cuja arquitetura interior é composta de margem e alguma correnteza”. Esses e tantos outros perfis femininos são ‘poetizados’ por Rita Isadora Pessoa em Mulher sob a influência de um algoritmo, seu segundo livro publicado. A poeta e psicóloga carioca recebe, desde a sua formação acadêmica, influência da romancista e poeta norte-americana Sylvia Plath, conhecida pelo texto confessional. Em seus poemas de poucos, mas densos versos, Rita expõe dores vividas por ela e por outras mulheres. “A ideia era que algumas dessas mulheres fossem parte de mim, mas que eu pudesse também dar voz a mulheres diferentes – familiares ou desconhecidas. O livro pode ter, portanto, essa função de oráculo algorítmico”, conta a poeta. O conceito de definir um tema que atravessa todos os poemas do livro foi visto como desafio, a princípio, pela autora. “Mas logo se tornou quase que um prazer, um vício, e eu me via tendo que parar o que estava fazendo para anotar a ideia de um poema e alguns versos”.

Anjo Negro (Paulo Schmidt)capa anjo negro definitiva.indd

Páginas: 304

Contato: (11) 99424-9050 / partschmidt@gmail.com

O autor do Guia politicamente incorreto dos presidentes da República (2016) – livro que integrou durante semanas as listas dos mais vendidos do País – traz agora um romance vencedor do III Prêmio Cepe Nacional de Literatura. A história é narrada por Gregório Fortunato, o famoso guarda-costas de Getúlio Vargas que trava luta contra seres sobrenaturais como lobisomens e vampiros. Essas criaturas monstruosas se confundem com personagens históricos em uma trama de ação, intriga e conspiração que revela segredos sobre o suicídio de Getúlio passado dentro de um universo fantástico.

“Acusam-me, entre outras coisas, de mandar matar aquele maricas do Lacerda que, durante seus faniquitos, insultava publicamente Getúlio Vargas, meu chefe, mentor e amigo. Mas se soubessem o que realmente aconteceu, se eu lhe contasse a história toda, não estaria em uma penitenciária do Rio de Janeiro, e sim limpando uma cela de hospício com cotonete porque ‘as paredes têm ouvidos’”.

capa espaço terrestre.inddEspaço Terrestre (Autor: Gilvan Lemos)

Páginas: 223

Contato: Wellington de Melo, editor da Cepe: 3183-2782 /

99589-7777

Em narrativa quase cinematográfica, o escritor Gilvan Lemos (1928-2015), mestre da moderna ficção brasileira, apresenta em Espaço terrestre a saga de uma fictícia comunidade do interior nordestino e das várias gerações de uma família luso-tropical, os Albanos, que na vila de Sulidade vive conflitos exacerbados pela miscigenação entre portugueses, negros e índios. Escrito há quase duas décadas, Espaço terrestre é o primeiro romance histórico de Gilvan Lemos e ganha sua terceira edição pela Cepe. Em narrativa marcada por forte crítica social, costura os dramas dos personagens a importantes fatos da história de Pernambuco e do Brasil. Autor de 25 livros, entre romances, novelas e contos, Gilvan Lemos também ocupou a cadeira de número 26 da Academia Pernambucana de Letras (APL).

A flor lilás e outros contos (Ricardo Augusto Pessoa Braga)a flor lilás definirtiva olho.indd

Páginas: 101

Contato: 99607-1450/ 99376-2725 /ricardobraga@hotlink.com

Cenas que se desenrolam em Pernambuco, Rio de Janeiro e Amazonas, mesclam episódios reais e voos livres da imaginação, ora de forma dolorosa ora com leveza e bom humor no livro do escritor pernambucano Ricardo Augusto Pessoa Braga. Vencedor do III Prêmio Cepe Nacional de Literatura (categoria Contos), A flor lilás e outros contos aborda em seus dez textos temas que evocam lembranças perdidas no primeiro dia do ano, entre oferendas jogadas ao mar e um reencontro amoroso, ou o cenário árido do Sertão, em que a fome, o êxodo, as relações frustradas, o amor e a morte expõem o complexo da vida, o florescer e o fracasso das relações, a morte por amor. Tudo permeado pela lembrança emblemática de uma flor lilás. Esse é o segundo livro de Ricardo Braga, também biólogo e professor da Universidade Federal de Pernambuco, que é lançado pela Cepe. Em 2014, a editora compilou em Ecologia do cotidiano as crônicas publicadas na coluna Foco Ambiental mantida nos portais do Sistema Jornal do Commercio desde 2007.

O insistente inacabado (Luiz Costa Lima)

Páginas: 252

Contato: (21) 22946282 / l18danil@gmail.com

Nessa obra o autor rememora perguntas sobre a escrita da história e a literatura a partir da análise de definições elaboradas pelos historiadores e romancistas alemães Chladenius, Droysen, Gervinus e Fielding, entre a segunda metade do século XVIII e a primeira do século XIX.

No livro, Luiz Costa Lima questiona ainda o desdobramento dessas perguntas e da literatura como reafirmação do fato social. Seu trabalho mais uma vez se debruça sobre a mímesis, termo filosófico que compreende uma variedade de significados.

“(…) o fenômeno da mímesis, longe de se esgotar no âmbito da arte verbal e plástica, compreende o próprio espaço da vida. Dizê-lo, não significa que disso soubéssemos ao aceitarmos seu desafio. Muito menos que ele será aqui sequer esboçado.”

Professor emérito da PUC do Rio de Janeiro, o autor nasceu no Maranhão em 1937 e chegou a ensinar durante um ano na UFPE, quando foi demitido pelo AI-1 por haver colaborado com o programa de alfabetização de Paulo Freire. Recebeu em 1992 o prêmio de pesquisa da Humboldt-Stiftung, de Berlim, na Alemanha.

SERVIÇO

“Travessias Cepe Editora – encontros sobre literatura e crítica”

Quando: 19 a 21 de novembro

Onde: Caixa Cultural ( Avenida Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife)

Contato de Wellington de Melo – 9.8260-7770

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