BOLSONARO EM BRASÍLIA

Rodrigo Constantino – Isto É

 

Não adianta mais chorar, espernear, gritar “ele não”: Bolsonaro será o próximo presidente do Brasil. A esquerda terá que aprender a conviver com isso. Mas, se a experiência com Trump serve de aprendizado, podemos esperar uma postura infantil, contraproducente e desonesta de boa parte dessa turma.

Fernando Haddad, presidential candidate for the Workers' Party, speaks during a press conference in Sao Paulo, Brazil, on Thursday, Sept. 13, 2018. Financial markets are just as spooked that former Sao Paulo Mayor Haddad could become Brazil's president as they were when his mentor Luiz Inacio Lula da Silva was elected 16 years ago.  Photographer: Patricia Monteiro/Bloomberg

O primeiro discurso de Fernando Haddad após a derrota deu o tom: incapaz de uma reflexão sincera sobre o que aconteceu, o petista preferiu a ameaça, a deselegância e a campanha política. Mano Brown e Cid Gomes entenderam melhor o que se passou. O PT perdeu o contato com o povo, e se nega a fazer uma autocrítica sincera.

A imprensa, em sua bolha “progressista”, também deveria escutar o recado das urnas. O Brasil não quer ser vermelho. Optou por uma guinada conservadora, e em qualquer democracia é legítimo e saudável alternância de poder com viés ideológico. Após anos de hegemonia esquerdista, o povo clamou por mudanças. Isso deve ser respeitado.

Bolsonaro, em seu primeiro discurso como eleito, adotou um tom conciliatório, de união, apesar de alfinetar a mídia, que tem sido mesmo desleal com ele. O papel dos jornalistas é ser crítico, mas o duplo padrão é que mata. Nunca usaram o mesmo rigor contra os petistas, e exageram na dose com Bolsonaro, com rótulos absurdos.

Tudo isso, porém, deve ficar para trás. O fato é que Bolsonaro foi eleito, apesar do esforço contrário do establishment. E tem muito trabalho pela frente, para reconstruir o país, colocar a economia no trilho novamente, resgatar valores morais perdidos. Para tanto, terá de buscar alianças, engolir alguns sapos, contemporizar. Claro, com firmeza e lembrando de qual agenda foi a vencedora. A direita agora está no poder.

Mas o foco deve estar no futuro, não no passado. “Quem se vinga depois da vitória é indigno de vencer”, disse Voltaire. O povo não quer vingança contra os petistas; quer Justiça, claro, mas quer, acima de tudo, mudar o rumo, produzir empregos, diminuir a criminalidade, recuperar a decência.

Bolsonaro precisa fazer um chamado à nação, convocando todas as pessoas de bem, incluindo aquelas que, por vários motivos, decidiram não votar nele, a arregaçar as mangas e trabalhar pelas mudanças de que o Brasil necessita. Reformas duras terão de ser aprovadas, grupos de interesse serão enfrentados no combate pelo fim de privilégios e os obstáculos serão imensos.

Sem união não há como avançar. Nesse aspecto, Bolsonaro não pode ser comparado a Trump, pois o sistema americano é bipartidário. Já o capitão terá de negociar com vários partidos. Que ele tenha muito jogo de cintura, humildade e firmeza ao mesmo tempo, para que sua agenda vencedora possa vingar. Os patriotas estão na torcida, e também prontos para sua cota de contribuição nessa luta por um Brasil melhor.

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