Representantes das Frentes Parlamentares do Congresso Nacional e da Assembleia Legislativa de Pernambuco, o governador Paulo Câmara (PSB) e líderes sindicalistas reuniram-se no Palácio do Campo das Princesas, no Recife, para se manifestarem contra a intenção do presidente da República Michel Temer (PMDB) de provatizar a Companhia Hidroelétrica do São Francisco (CHESF). Todos se posicionaram preocupados com o futuro do Rio São Francisco.
Durante o encontro, o governador Paulo Câmara fez alertas sobre o processo de venda das ações da Eletrobrás e adiantou que no momento que vive o País, o Governo Federal não pode aprovar um procedimento tão importante sem o devido diálogo, entendimento e clareza de como será feito e as potenciais consequências que podem atingir negativamente os brasileiros.
Câmara disse ter muitas preocupações com o assunto. “Até agora, o que não temos dúvidas é que esse processo vai sim aumentar a conta de luz dos brasileiros e fazer com que não tenhamos mais controle sobre a utilização do Rio São Francisco. Enviamos uma carta assinada pelos nove governadores do Nordeste, protocolada no dia 5 de setembro, onde mostramos nossas preocupações e pedimos diálogo. Até agora, não recebemos nenhuma resposta. E isso mostra claramente que nossas preocupações estão corretas. E, por isso, a gente não pode baixar a cabeça. Temos que mostrar ao Brasil os riscos que um processo como esse, da forma que está sendo feito, de um setor tão importante e estratégico, pode gerar para as futuras gerações de brasileiros nos próximos 30 anos”.
Para o governador, o pior de tudo é o que está motivando o interesse pela venda da empresa. “O que está se vendo muito claramente é a intenção de fazer essa venda para tapar o rombo das contas públicas, e isso vai afetar a rede econômica nos próximos anos com o aumento da conta de energia elétrica. E, novamente, quem vai pagar é o povo”.
O presidente da Frente Parlamentar Nacional em Defesa da Chesf, o deputado Danilo Cabral (PSB) também criticou a falta de diálogo do Governo Federal e pediu que seja dado à empresa o mesmo tratamento dado em relação à Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca). “O Governo recuou em relação à Renca porque viu que a sociedade estava mobilizada a enfrentá-lo. Então, o mais importante, agora, é fazer essa mobilização em defesa da Chesf e lutar pela preservação daquilo que é um patrimônio dos nordestinos. Uma empresa que completa, em 2018, 70 anos de história. E, como já defendia o ex-governador Miguel Arraes, a Chesf é o maior e o mais importante investimento público feito na história do Nordeste, que induziu a chegada da cidadania através do acesso à energia e à água para 54 milhões de nordestinos. Não é a primeira vez que tentam privatizar a Chesf, e, como já aconteceu, será a mobilização do povo que vai barrar essa privatização”, disse.
Também presente na discussão, o vice-presidente da Frente Parlamentar, senador Humberto Costa (PT), falou sobre a importância da audiência com a procuradora Geral da República, Raquel Dodge, no próximo dia 19, para a disseminação da luta contra a privatização da companhia. “A Chesf é fundamental para ações no campo social para muitas cidades do Nordeste, e todos nós sabemos que a causa social não será prioridade, em termos de continuidade, para a gestão privada. Sem falar no papel que a companhia desempenha na pesquisa e no desenvolvimento cientifico e tecnológico. E esses projetos e pesquisas de energia alternativa, são pontos estratégicos também para a nossa região. E, por tantos outros motivos, não podemos abrir mão desse patrimônio, que é fruto do suor do povo nordestino e do povo brasileiro”.
O deputado Lucas Ramos (PSB), presidente da Frente Parlamentar Estadual, defendeu que a Chesf não pode ser usada para resolver o problema financeiro do País. “Com o objetivo de fazer caixa, estão colocando à venda um patrimônio que foi construído há mais de 50 anos, e que ajudou a desenvolver, não só Pernambuco, onde está sediada, mas todo o Nordeste. E por se tratar de um sistema elétrico interligado, serviu também ao Brasil durante muitos e muitos anos, gerando lucro e criando oportunidades na vida das pessoas”.
Para o presidente do Sindicato dos Urbanitários de Pernambuco (Sidurb/PE), José Gomes Barbosa, a privatização não respeita a vontade do povo. “Nós estamos defendendo uma região. Estamos defendendo um rio, o único rio perene do Nordeste, que traz desenvolvimento para o setor agrícola e para milhares de famílias. Entregar um grande patrimônio do povo nordestino, que é a Chesf, a grupos privados, que só querem o lucro, sem ter o entendimento do povo, não pode acontecer, não vamos deixar acontecer. E como já foi dito: mexeu com a Chesf, mexeu com o Rio São Francisco, eu viro carranca”.
Participaram do debate os deputados federais Creuza Pereira, Severino Ninho, Luciana Santos e Tadeu Alencar, os deputados estaduais Isaltino Nascimento, Laura Gomes e Aluísio Lessa, o secretário estadual da Casa Civil, Nilton Mota; e o ex-presidente da Chesf, José Carlos Miranda. Também estiveram presentes Fernando Neves, vice-presidente da Confederação Nacional dos Urbanitários, Raimundo Maciel, presidente da Federação Regional dos Urbanitários do Nordeste – FRUNE, Ari Azevedo, Sindicato dos Eletricitários do Rio Grande do Norte, Flávio Uchôa, representando o Sindicato dos Eletricitários do Ceará, Gilton Santos, do Sindicato dos Eletricitários de Sergipe, Dafne Oreo, do Sindicato dos Urbanitários de Alagoas, e Ademar de Barros, diretor Jurídico da União dos Vereadores de Pernambuco – UVP.
Fotos: Hélia Scheppa/SEI