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Antes de embarcar para a China, Michel Temer reagiu com uma veemência própria dos valentes à dissidência aberta entre os governistas do Senado para premiar Dilma Rousseff com a manutenção do seu direito de ocupar cargos públicos mesmo depois de deposta. Em reunião ministerial, Temer classificou de “inadmissível” a divisão de sua infantaria. “Se é governo, tem que ser governo. […] Não será tolerada essa espécie de conduta.”

O Temer que desceu do avião presidencial na cidade chinesa de Xangai era outra pessoa, uma espécie de ex-valente. Depois de voar ao lado de uma comitiva que incluía Renan Calheiros, capitão da manobra pró-Dilma, Temer suavizou o timbre. O que era inadmissível tornou-se aceitável:

”Não se tratou de uma manobra, tratou-se de uma decisão que se tomou. Desde o começo, ainda como interino, digo sempre que aguardo respeitosamente a decisão do Senado Federal. Se o Senado tomou essa decisão, certa, errada, não importa, o Senado tomou a decisão”, disse o presidente.

No Brasil, Temer insinuara que seus correligionários do PMDB haviam beneficiado Dilma sem consultá-lo. Questionado na China, desconversou. Disse apenas estar acostumado a ”acompanhar permanentemente esses pequenos embaraços, que logo são superados em seguida.”

O futebol talvez seja a melhor metáfora para a sessão de julgamento do Senado. Pelo menos oferece analogias que ajudam a interpretá-la. O impeachment era a bola. Estava combinado que o time do governo, que recebera o ‘bicho’ antecipadamente, dominaria a situação no peito e colocaria Dilma no chão. Mas o PMDB aparou com o nariz a emenda pró-Dilma, formulada pelo PT. Liderado por Renan, ajudou a aprová-la.

Para complicar, Eduardo Cunha embolou o meio de campo da Câmara, posicionando seus atacantes para exigir o mesmo tratamento dedicado a Dilma: cassação sem inabilitação. Ou ainda melhor: suspensão do mandato, sem cassação. Se Cunha prevalecer, o desgaste será debitado na conta de Temer.

Num instante em que se esperava que o governo exibisse musculatura congressual, o bloco parlamentar de Temer mostra as primeiras fissuras. Os neogovernistas PSDB e DEM olham de esguelha para o PMDB. Enxergam Renan, Jucá, Eunício, Jáder, Cunha… E concluem: a união faz a farsa. Temer pode lidar com o fenômeno de diversas maneiras. Minimizar é a pior delas.

Blog do Josias

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